quarta-feira, 26 de maio de 2010

A batalha

Desnecessário seria tentar explicar o gosto amargo da derrota, quando a batalha vinha de sua própria essência.
O guerreiro ergueu a espada, mas estava fraco. De tempos antes já sabia que não seria possível. Estava lutando contra seu próprio ego, suas próprias emoções, seus próprios suspiros internos de querer e procurar.
Não, não deveria ter levantado a espada.
Deveria continuar sereno – era esse seu desejo. O desejo internalizado, suspenso e reto, baseado em seus princípios que estavam nascendo. Pois então poderiam não ser princípios. Talvez direitos adquiridos por desejar a paz.
Mas não tinha paz.
Enquanto levantasse a espada, não seria assim.
Se a batalha começa, não há empate. Então seria melhor não começar uma batalha.
....
Estava lá, caído. Humilhado pela derrota. Mais uma vez dentre tantas outras vezes.
Mais uma.
Suspirou.
Seria melhor levantar-se e voltar aos treinos. Mas, agora, só em outra vida.
O duelo do samurai é impiedoso.
E ele tinha perdido.
No campo de batalha daquela vida, sua cabeça estava separada de seu corpo...
... e de seu ego...
... e de sua arrogância...
... e de sua mente...
... e de tantas outras coisas.
Precisava unir tudo novamente. Precisava nascer de novo.
Flutuava pelo campo de batalha.


Edson Egilio - 26/05/2010)

terça-feira, 25 de maio de 2010

E-mail

----- Original Message -----
From:
To: Edson Egilio
Sent: Monday, May 24, 2010 11:57 PM

Subject: belos textos..intensos!

Belos textos no seu blog!
Aquele do "Dilacerante...." vc vivenciou mesmo tudo aquilo que descreveu, ou foi uma "puta" inspiração num momento inspirador? Me conta?
bjs...


Resposta:

Obrigado... é interessante saber que gostou... fico feliz...

então, vivenciar, vivenciar... como seria? não, acho que não vivenciei. mas, ao ler, não nos dá a impressão que isso já aconteceu? parece que sim pois, talvez, deva acontecer mesmo... pode não ser uma "viagem", real... mas, sim, surreal. acontecem coisas que não nos damos conta do quanto é diferente e, ás vezes, são apenas devaneios pequenos e insignificantes - pelo menos são as características que damos à eles num primeiro momento, logo que os encontramos.


ah... vou postar isso, logicamente, sem seu nome.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tempo e oração

A luz do sol entrou pela janela de suas emoções. Um brilho - que de brilho pelo nome seria pouco, pois eram raios visivelmente fumegantes e avassaladores - foi forte o bastante para aquecê-lo e fazê-lo crer que poderia, sim, se tentasse.
Evaporou-se os resquícios de insanidade daquele dia que mais parecia um espaço de tempo, micro-espaço. Durou o tempo necessário para que ele pudesse se concentrar e, assim, poder subir ao alto e tentar rezar o credo que ainda não havia aprendido, só ensaiado.
Fechou os olhos para todos os seus sentidos e resolveu não sentir nada. Essa seria sua oração.
Neutralidade absoluta.
Lindo silêncio que o fazia não sentir, não ser.
No átimo seguinte poderia tudo terminar. E mesmo assim teria durado toda a eternidade.

(Edson Egilio 24/05/2010)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Existo

Dilacerante. Foi assim que meus pensamentos iluminaram-se em minha frente. Parecia matéria - eu olhava para eles, eram externos, estavam soltos. Ou não. Ou simplesmente eu me dividia. Estava realmente dividido. Parecia que estavam criando vida própria, e eu não os controlava. Me questionava sem parar. E, quanto mais eu me via externo a eles, ou eles externos a mim, pareciam aumentar em tamanho e começavam a criar formas.
Estranhas formas.
Eram meus pensamentos podres, fétidos... aqueles que estavam escondidos. Eles, que vestiam pele de cordeiro até então, agora se transformavam no pior dos lobos que eu já havia imaginado em minha infância.
Não. Não era um só um lobo.
Era um monstro.
Sem citação na literatura a qual eu pudesse recorrer para comparar aquela criatura que já estava com 3 vezes o meu tamanho e, inversamente, eu começava a diminuir.
Encolher.
Estava esgotado.
Aquela coisa estava me consumindo. Sentia uma onda de luz e calor sair de mim e ir para ela. O monstro começou a balbuciar algo, a urrar talvez, se é que um monstro que se formou de pensamentos ruins urra, mas o som era ensurdecedor. Aos poucos, todos os meus sentidos foram tomando forma e alimentando o ser das trevas.
Trevas do meu inconsciente.
Como ia lutar com ele, se estava cada vez mais fraco? Ele tinha uma forma gosmenta.
Sem ter o que fazer, aproveitando de alguns espasmos musculares, tentando encontrar forças... me joguei, me atirei em sua direção, ou fui forçado a isso. Não tinha muita noção da origem da força.
No momento em que eu mais tentava repelir aquela coisa, a única força que tive foi para me unir a ela.
E abracei e senti e sumi.
Fiz parte daquilo. Se era meu, eu tinha que assumir. Talvez não pudesse ficar solto. E quando me senti no escuro, envolvido naquela massa estranha, pequeno, sem ouvir nada, com os sentidos todos travados, percebi que havia um ponto de luz em algum lugar. Não via, só sentia a presença.
Então comecei a me concentrar naquele ponto. Era cintilante... Comecei a perceber todas as cores, todas as formas, todos os pontos, todos os deuses e diabos, todos os sentimentos bons e ruins, todas as pessoas, as grandes velocidades dos automóveis, a força dos animais, o poder da turbina do avião, festas, encontros e desencontros, nascimentos e mortes, choros de alegria e tristeza, tudo era uma coisa só, Shiva estava lá, imponente e forte, mas ele era Cristo, que era Buda, e Buda era Gandhi, e todos eles eram todas as pessoas, não existia unidade, senti, vi...
E era um elétron apenas. Um único.
... mas pulsava e me dava todas as respostas. Incrivelmente me senti em paz.
Fiquei tão pequeno que parecia estar no núcleo daquele elétron fumegante.
Calor, paz. Estava lá. Tranquilo.
E fiquei assim. Adormeci.
Só.
Único. Livre. Sem sentidos, sem peso, sem matéria, sem pensamentos. Estava lá, mas não estava. Eu existia mas não existia. Eu era. Voltei ao meu início, apenas parte da matéria.
Não tinha mais nada a me preocupar, a pensar, a fazer, a ir, a sentir...
Simplesmente simples assim.
Existi.

(Edson Egilio - maio/10)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Não aprender nada

Hoje não aprendi nada. Vivi no automático. Estive recluso em minha mente e deixei as coisas acontecerem. E elas aconteceram. Sozinhas. Não precisei ordenar, fazer, se mexer, fiquei quieto e abracei eu mesmo.
Não aprendendo nada, aprendi que tem dias que não precisamos aprender. Só viver.

Edson Egilio (13/05/10)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O lar do Bob

Meu lar é sempre onde estou, meu lar está na minha mente, meu lar são meus pensamentos, meu lar é pensar as coisas que eu penso. Esse é meu lar. Meu lar não é um lugar material por ai... meu lar está na minha mente.

(Bob Marley)

Mente

Na calmaria de minha mente, subtraio o irreal do real, e o verso também... verso não da poesia, mas o verso que significa o outro lado...
fico paralelo, nivelado... abaixado, quase acorrentado... mas fico lá.
estou assim, no passar dos dias, olhando, captando, pensando.
lá no fundo do meu inconsciente tenho uma casinha, quase igual àquela do campo, que falava na canção... só não estou com os amigos nem os discos.. só eu e eu.
fico lá o tempo necessário para poder voltar ao mundo real.
realmente paralelo.

(Edson Egilio - 07-05-10)