quinta-feira, 5 de setembro de 2019

O passado

O Guerreiro andava na solidão do mundo, a estrada tinha gosto amargo, pois quando não se conhece o caminho, a distância é ainda maior.

Ao longe, pode avistar uma pessoa andando em direção contrária. O sol da manhã, atrás da pessoa, fazia sombra em seu rosto, dificultando a visão de quem estava a frente do sol. Só se definia um vulto escuro. Aos poucos, se aproximando, pode perceber que era alguém já castigado pelos anos vividos.

Pode ver muitas rugas e traços desenhados no pouco que enxergou daquele rosto No pouco que pode definir de seus traços, viu um rosto marcado pelo tempo. Mãos calejadas. Percebeu que o sopro divino já não era tão divino naquele ser. Cansado, quase que sem forças.

Já em frente ao homem, o guerreiro escutou:

_ Volte, homem. Volte enquanto é tempo.

_ Voltar para onde?

_ Para sua vida.

_ Mas que vida?

_ Aquela que você tinha.

_ Não. Você não sabe da vida que eu tinha e, também, estou no caminho. Estou trilhando, lutando, vagando, cansando meu ego para que ele se canse de mim também.

_ Ah.. Seu ego. Sim. Ele mesmo. O mesmo que me fez voltar.

_ Te fez voltar? Então você estava no mesmo caminho que eu e não conseguiu achar nada?

_ Achei sim. Mas meu ego queria que eu voltasse. Ele me fez lembrar de todas as coisas boas que tinha deixado para trás.

_ Mas é tudo ilusão.

_ Pode até ser, mas você está conversando comigo, não está?

_ O que isso tem a ver?

_ Vá, Guerreiro. Continue. Você não vai resistir também.

E o ancião continuou a andar. Sem mais palavras, passou por ele e continuou seu caminho de volta.

O Guerreiro ficou parado. Pensando. Olhou para trás e viu que o velho homem já se afastava. Resolveu fazer mais uma pergunta.

_ Qual é seu nome, velho andarilho?

_ Preciso dizer?

O Guerreiro, agora ele de costas para o sol, pode reconhecer melhor o rosto do ancião. Era ele próprio, muitos anos envelhecido, com um sorriso faltando dentes, sarcástico.

Não acreditava no que via. Fechou os olhos, esfregando, para perceber que não estava sonhando. Quando abriu. O homem não estava mais lá.

Mas sua risada macabra ecoava pela estrada.

Chorou copiosamente pensando em voltar.

Mas não era esse o objetivo do Guerreiro. Ele não podia ceder às tentações.

(...)

(Edson Egilio - 15/12/2010)